quinta-feira, 23 de abril de 2009

AS "DAMAS"

A mulher no Ocidente, a saber, aquilo que chamamos de "dama", encontra-se numa fausse position: pois a mulher, nomeada com razão pelos antigos de sexus sequior, não é de modo algum adequada para ser objeto de nosso respeito e de nossa veneração, para manter a cabeça mais erguida que o homem e para ter os mesmos direitos. As consequências dessa fausse position são suficientemente visíveis. Seria, portanto, desejável que também na Europa se indicasse novamente a esse número 2 do gênero humano o lugar que ele merece por natureza, e que se impusesse um limite a essa inconveniência das damas, da qual não apenas toda a Ásia ri, mas também devem ter rido a Grécia e Roma: cessar tais disparates traria consequências incalculavelmente benéficas do ponto de vista social, civil e político. (...) A verdadeira "dama" europeia é um ser que não deveria sequer existir; em vez dela, deveria haver donas de casa e moças que esperassem tornar-se como as primeiras, e portanto que não fossem educadas para a arrogância, mas sim para a vida doméstica e para a submissão.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

OS CARROCEIROS QUE ESTALAM SEUS CHICOTES

Não posso deixar de denunciar o estalo verdadeiramente infernal dos chicotes nas vielas rumorosas das cidades como o barulho mais irresponsável e vergonhoso de todos, que rouba da vida toda tranquilidade e concentração. Nada me dá uma ideia tão clara da obtusidade e da inadvertência dos homens do que a permissão de chicotear. Esse estalo repentino e agudo, que paralisa o cérebro, despedaça e mata qualquer pensamento, deve ser sentido dolorosamente por todos os que tenham dentro da própria cabeça qualquer coisa que se assemelhe a um pensamento: portanto, perturba centenas de pessoas em suas atividades intelectuais, por mais simplórias que sejam, e mais ainda o pensador, em cujas meditações penetra de maneira tão dolorosa e funesta como a espada do carrasco, que separa a cabeça do tronco. Nenhum som fere o cérebro de modo tão cortante quanto esse maldito estalo de chicote. Chega-se a sentir a ponta do chicote batendo no cérebro, no qual age com o toque da mão na mimosa pudica, e até por mais tempo. Com todo o respeito pela sacrossanta utilidade, não consigo entender por que um serviçal que conduz uma carroça com areia e esterco deva receber o privilégio de sufocar o germe de todo pensamento em ascensão no cérebro de dez mil cabeças sucessivamente (meia hora ao longo das ruas da cidade). Marteladas, latidos e gritos de crianças são horríveis, mas o único e verdadeiro assassino de pensamentos é o estalo de chicotes. Parece ter sido criado exclusivamente para triturar todos os momentos bons e de reflexão que vez ou outra alguém consegue ter. (...) Esse maldito estalar de chicotes não só é desnecessário, como chega a ser inútil. O efeito psíquico desejado nos cavalos, devido ao hábito causado pelo abuso contínuo de tal recurso, diminui e acaba perdendo totalmente seu objetivo: os cavalos não apressam o passo com o estalar do chicote. (...) Supondo-se, porém, que fosse imprescindível usar tal som para lembrar constantemente os cavalos da presença do chicote, bastariam estalos cem vezes mais fracos, pois é sabido que os animais são capazes de perceber até os sinais mais silenciosos, quase imperceptíveis, tanto pela audição quanto pela visão. Os cães adestrados e os canários são exemplos surpreendentes dessa constatação. Por conseguinte, estalar chicotes representa um puro arbítrio, ou até mesmo um escárnio insolente por parte dos trabalhadores braçais em relação aos intelectuais. Tolerar semelhante infâmia nas cidades é uma barbárie grosseira e uma injustiça; tanto mais quanto seria até mesmo fácil eliminar, por decreto policial, um nó na ponta de cada chicote. Não há mal nenhum em chamar a atenção dos proletários para o trabalho intelectual realizado pelas classes que lhe são superiores, pois estes temem o trabalho intelectual mais do que tudo. Nem todos os filantropos do mundo, com todas as assembleias legislativas, que por boas razões são contra as punições corporais, poderão me convencer de que um serviçal, que cavalga pelas ruas estreitas de uma cidade muito populosa, conduzindo livremente cavalos do correio ou montando um cavalo de carroça desatado, ou até mesmo que caminha ao lado dos animais, estalando incessantemente e com toda a sua força o seu longuíssimo chicote, não mereça ser obrigado a desmontar imediatamente para receber cinco bastonadas bem dadas. (...) Terá o intelecto pensante de ser o único a nunca experimentar a menor consideração, nem a menor proteção, menos ainda a respeito, em prol desse cuidado tão generalizado com o corpo e de todas as formas de contentá-lo? Carroceiros, carregadores, pessoas ociosas que ficam nas esquinas e similares são os animais de carga da sociedade humana; devem, sem dúvida, ser tratados humanamente, com justiça, benevolência, indulgência e cuidado: mas não lhes deve ser permitido que, com o rumor insolente que produzem, tornem-se um impedimento às aspirações elevadas do gênero humano. Eu gostaria de saber quantos grandes e belos pensamentos já foram banidos do mundo pelo estalar desses chicotes. Se eu fosse um dirigente, criaria na cabeça dos carroceiros um nexus idearum [nexo de ideias] indestrutível entre estalar chicotes e receber bastonadas.

domingo, 19 de abril de 2009

A BARBA

A barba, por ser quase uma máscara, deveria ser proibida pela polícia. Além disso, enquanto distintivo do sexo em meio ao rosto, ela é obscena: por isso é apreciada pelas mulheres.